sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Apontamentos de Cinema - 2

"A relação entre o cinema e o mundo é de tradução"
(STAM)

O 15º capítulo do livro de Stam é dedicado à linguagem cinematográfica e nele o autor traz reflexões sobre a semiótica como uma ciência que passou a fazer parte dos estudos de cinema durante os anos 60-70.

A questão sobre o estatuto do cinema e a conceituação desta linguagem permaneceram ao longo do século XX e ampliaram as indagações sobre a relação entre a linguagem cinematográfica e a linguística, levando a Stam a dedicar-se aos estudos de Metz, um teórico que entrava nos estudos de cinema já com um dispositivo teórico da linguística. Aliás, sobre isso vale a pena destacar que em estudos de cinema muitas análises fílmicas são formuladas com base em teorias vindas de outras áreas do conhecimento.

Stam destaca nos estudos de Metz a sua visão ampla de cinema que envolve uma referência tridimensional: a pré-filmagem (ex.: star system, produçao, roteiro), a pós-filmagem (distribuição, exibição, recepção) e o a-fílmico (localização das salas de exibição, estrutura das salas, o rito que antecede a entrada no cinema, etc).

Neste sentido, reforço a minha ideia de que estudar cinema não significa apenas analisar filmes. Se pensarmos na linguagem de forma ampla, como expressão das práticas sociais e parte constitutiva dessas práticas, entendemos a razão de considerarmos toda a movimentação significativa (ritos) que antecede a leitura do filme, assim como o que viabiliza essa experiência de leitura. Educar pelo cinema corresponde interpretar os gestos necessários para tornar o filme acessível aos espectadores.

Embora Metz trace um paralelo entre a linguagem cinematográfica e a linguistica, ele reconhece que a língua vernacular é natural, isto é, aprendida à medida que se interage com ela, já a linguagem cinematográfica requer um conhecimento prévio da técnica, do conhecimento dos planos, ângulos, do acesso a uma máquina de filmagem, enfim, ela é aprendida como segunda língua, de forma artificial paralela ao vernáculo.

As limitações da análise estruturalista metziana (como outra qualquer) referem-se aos elementos que ficam de fora do processo de sigificação e que são, a meu ver, elucidativos para explicar uma série de questões que foram levadas em consideração no momento da produção do texto. Relegar este elemento contextual retira do plano da significação uma parte constitutiva do próprio texto fílmico, uma vez que nele se encontram os aspectos históricos, sócioculturais, políticos, estéticos e econômicos que influenciaram a seleção dos planos, ângulos e movimentação de câmera, assim como da iluminação, trilha sonora, momento de corte na edição, orientando a própria construção do filme, pois todos esses gestos são realizados por sujeitos históricos.

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