segunda-feira, 30 de abril de 2012

A Princesinha, de Alfonso Cuarón

Alfonso Cuarón é um diretor mexicano conhecido por ter dirigido um filme instigante e polêmico: O Filho da Esperança (Children of Men), em 2006. Cinco anos depois, dirigiu Convenção das Bruxas (Witches) aproximando-se das narrativas de encantamento da qual faz parte A Princesinha (A Little Princess), 1995.
O filme é baseado no livro de Frances Hordson Bennet, escritora inglesa, autora de outro clássico da literatura infantojuvenil e que também virou filme: O Jardim Secreto, dirigido por Agnieszka Holland, em 1993, um filme que encanta adultos e crianças (exibi aqui em casa e a minha sobrinha de 9 anos gostou muito).
A Princesinha conta a história de Sara (Liesel Matthews) uma menina inglesa que vive na Índia (assim como a protagonista de O Jardim Secreto) em convívio com a natureza e com as narrativas orais. Certa vez, à beira do rio, acompanhdada de um menino e mulher hindu, Sara pergunta se a mulher era uma princesa e ouve da mulher a seguinte resposta: “Toda mulher é uma princesa”. O contato com a cultura oriental e com as narrativas orais fez de Sara uma menina imaginativa, inteligente e corajosa. Mesmo órfã de mãe, o pai, um capitão do exército inglês, tenta criar Sara, mas a Primeira Guerra Mundial o convoca, forçando-o a deixá-la bem instalada em um orfanato em Nona Iorque onde a sua mãe fora criada.


Sara inicialmente tem uma vida de conforto, mas tão logo recebe a notícia equivocada de que seu pai havia morrido, passa a ser tratada como empregada, juntamente com outra criança negra, Becky, ambas agora proibidas de conversar com as meninas da casa. No iníco, Sara tenta infringir as regras e consegue isso com alguma dificuldade, mas com a notícia da guerra e da confiscação dos bens de família, a preceptora a retira do melhor quarto e aloja-a no sótão, cuja varanda fica de frente à varanda do vizinho que irá acolher o pai quando este retornar desmemoriado e cego, devido ao choque traumático da guerra.
Frances Hordson Bennet
Sara constrói laços de amizade com as meninas que acabam se encantando com as suas histórias, melhores do que aquelas inadequadas às crianças (uma crítica da escritora) narradas sem encantamento. Vê-se que a inadequação é muito mais em relação à linguagem do que ao tema, já que as histórias de Sara são também histórias de amor, assim como as narradas em grupo, através do livro, em frente a lareira. No filme, fica clara a intertextualidade com o conto Rapunzel, pois a princesa é trancada em uma torre alta vigiada por um dragão de várias cabeças.
As histórias de Sara também ajudam-na a superar as perdas e as injustiças, buscando alegrar-se e tirar daquela situação momentos positivos que a fizessem sobreviver. A figura misteriosa de um servente indiano morador da casa cuja varanda fica em frente ao sótão de Sara, funciona como uma ponte de ligação cultural entre a Índia e a Europa, uma relação que a literatura infantil conhece muito bem. O indiano quase não fala durante o filme, mas observa a realidade em que vive e vê em Sara uma "princesa", isto é, mesmo na adversidade a menina não deixa de ter gestos nobres, como a generosidade e a solidariedade. Mas, também, sabe fazer uso das palavras para enfrentar a maldade das pessoas. Em uma das situações, ela lança uma praga a uma menina que a maltrata ferozmente e em outra toca à fundo na preceptora quando lhe pergunta se o pai dela nunca lhe havia dito que era uma princesa.
O filme fala de amor e de esperança em tempos de guerra.
Ficha Técnica:
Direção: Alfonso Cuarón
Roteiro: Richard LaGravanese
Produção: Warner Bros.
Ano: 1995


Elenco principal:
Liesel Matthews (Sara)
Liam Cunningham (Cap. Crewe/Prince Rama)
Eleanor Bron (Miss Minchin)
Rusty Schwimmen (Amelia Minchin)
Arthur Malet (Charles Randolph)
Vanessa Lee Chester (Becky)
Sandeep Walia .... Indian servant