sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Apontamentos de Cinema -1

Robert Stam em seu livro Introdução à Teoria do Cinema faz um levantamento das principais teorias que foram se desenvolvendo desde que o cinema foi visto para além de uma máquina de filmar, mas como discurso para as massas. No capítulo 6 do referido livro, Stam trata do "formalismo russo e a escola de Bakhtin". O formalismo, com quem Eisenstein dialogou muito bem a partir da visão cinema-montagem, gerou discussões sobre o cinema enquanto estética, estrutura, convenção e como experiência formal. Para os formalistas, o importante era analisar, explicar a forma de dizer do cinema com base na organização interna de suas estruturas. Neste meio de profundo debate, aprofunda-se as concepções do cinema ora como cinema-prosa, como Eikhenbaum preferia ora cinema-poesia, como pensava Tinianov. Os teóricos do formalismo, portanto, tinham o cimema como uma arte que funcionava "independente da trama" (STAM, 2003, 67).

É importante destacar a diferença que Stam apresenta entre os formalistas e os semióticos. Aqueles estavam mais próximos ao que poderíamos chamar de uma cine-arte, da estética, da poética. Já os semióticos, estavam atrelados à linguística e pensavam em transferir para os estudos de cinema os estudos linguísticos, tentando identificar no texto fílmico o mesmo que se via no texto linguístico: a palavra, a frase, a oração, o sintagma. Deste modo, por meio de contraste, coincidência e comparação se estudaria o texto fílmico, assim como se fazia com o linguístico. É o que Christian Metz irá fazer.

Contrapondo-se ao formalismo, embora dentro do coração do formalismo, a Rússia do século XX, Mikhail Bakhtin faz uma crítica aos formalistas e parte para uma concepção dialética por meio da qual a linguagem geraria no plano da recepção reflexos e refratações, anunciando, deste modo, a importância dos estudos da recepção hoje tão em voga. Para Bakhtin, a historicidade é importante tanto do ponto de vista contextual, isto é, considerando as condições históricas da produção do discurso, quanto dentro do texto, constitutiva, ou seja na relação entre as combinações de textos (memória) citados dentro de um texto, o que ele chama de dialogismo e que Kristeva cunhará de intertextualidade. Apesar do aparente caráter a-histórico da referência a um texto, deslocado de sua formulação anterior, a sua citação, formulação, já é uma ativação da memória de um texto lido em um outro tempo e lugar.

Alguns aspectos da visão Bakhtiniana são importantes na relação cinema e educação porque podemos perceber a inevitável direção a ser dada nos estudos das linguagens, entendendo o cinema como um poderoso artefato fabricante de linguagens que são historicamente reorganizados dentro de uma estrutura ecomômica e de consumo. Basta vermos a mudança radical geográfica, física dos cinemas em Salvador que saíram dos "cinemas de rua" para os de Shoppings, mostrando a estreita relação entre o cinema e o consumo. Poucos permanecem fora dos Centros de Compra e são chamados de cinemas de arte.

Esta mudança foi desoladora para aqueles acostumados a assistirem filmes nas grandes salas, a exemplo do Bristol, do Bahia, o Guarani, e as mudanças dos espaços foram justificados na época por motivos de segurança. No entanto, sabemos que este deslocamento deveu-se a mais uma manobra de sobrevivência dos cinemas, transformando-o claramente em consumo. As pessoas consomem cinema como consomem um saco de batatas fritas do McDonald's ou Bob's.

É importante, ao pensarmos na díade cinema e educação, percebermos a estrutura na qual o cinema se movimenta porque elas estão entrelaçadas: forma e conteúdo, dialeticamente. Assim, estudar cinema e a educação pelo cinema, seja na forma escolarizada ou não, deve-se abarcar a história do cinema europeu, norte-americano, latino-americano e baiano, assim como a cotidianidade vivida por aqueles que vão ao cinema e fazem dele uma parte de sua realidade.

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